Peixe Fora De Água

O albergue europeu

De Morzine para Lisboa em 7 dias, via Bruges, Edimburgo e Dublin. O reencontro com os amigos em cada porto, e um voo católico onde o comandante vem ao microfone para anunciar aos irlandeses que sobrevoamos o santuário de Fátima. À chegada a tripulação propõe um viva ao Thomas que vem a Portugal casar com a Filipa. O avião aplaude entusiasmado. E eu de lágrimas nos olhos. Sofrer de SPM é lixado. Uma ditadura biológica.

We're back in the city

Palavras para quê? Memórias só em fotos. A ansiedade urbana segue dentro de momentos.

More tales of life in the mountains

Yesterday I spent the day in Geneva, killing time between dropping off McGregor at the airport and waiting for relatives to fly in.

Have you ever spent 3 months away from the city only to find it too overwhelming upon your return? Because that's precisely how I felt. I was bothered by the traffic jams, conflicting signposts, the effort city driving takes , demanding you to concentrate on errant pedestrians, other cars coming to abrupt stops and parking places of anorexic proportions.

Of course it didn't help that the cash machine at Credit Suisse ate my debit card, leaving me completely peniless in one of the most expensive cities in the world (by the way, thank god for Western Union for money emergencies!). I spent sometime in FNAC, but not even that excited me. Whereas before I would salivate at the sight of a FNAC store, yesterday I found myself browsing the shelves with mechanical indifference, wishing I wasn't in such a confined space. Sure, i did revel at the site of a Thai restaurant, where I had some lemongrass soup - a welcome change from the cheese exile I've been enduring in the Alps. I even enjoyed walking in the rain through old neighbourhoods packed with boutique restaurants, lavish store opening parties and some incredibly decadent delis. The owner of an olive oil shop spoon fed me with 4 different varieties of the aforementioned produce. The basil olive oil was an accomplished combination, worthy of the Gods, but at 13 euros for 100 ml I smiled appreciatively and said my goodbyes. As I stepped onto to the street again I found myself looking forward to the next day in the mountains.

Actualizacao

Para marcar um regresso a passos lentos, coisas que se tem passado nos tres ultimos meses:

• Descobri que adorava ter um cao.
• Fotografar os varios passos de uma receita e' muito mais facil do que as escrever.
• Era brutal viver perto de todos os nossos amigos e ter a cozinha cheia de gente (quase) todos os dias
• Esquiar e fazer snowboard aumenta a auto-confianca e enrija o musculo.
• Adoro La Belle France
• O inverno nas montanhas e' das coisas mais bonitas que ha'. Depois disto, a praia parece-me um lugar francamente monotono.
• Porque e' que ha' tanta gente a mudar para as cidades? (eu sei que estou quase a regressar a uma, mas muitas vezes acho que seria igualmente feliz numa petit village)
• O gin hendrix e' o melhor gin do mundo, e deve ser servido com duas rodelas de pepino, e nunca limao.

Mais brevemente....

Três grandes razões para não escrever no blogue

 

Esta é a vista do meu quarto em Morzine.

Esta é a vista da minha sala em Morzine, quando anoitece.

Esta é a vitrine da pastelaria da vila.

Não tenho televisão. Muito pouco acesso à internet. O mundo passa-me ao lado. Por onde olho à minha volta só vejo o branco da neve, o verde das árvores e o azul do céu. O inverno assim vale a pena. É uma estação feliz. Toda a gente devia fazer isto uma vez na vida. Mandar tudo às urtigas e viver na montanha. Descobri um cafe onde vou comecar a postar. Ate ja!

p.s. – se algum dos meus leitores já viveu na região da Sabóia (Haute-Savoie), podem por favor partilhar comigo o segredo de sobreviver a um lugar onde todos os pratos são cozinhados com queijo, fiambre e natas (há a opção de extra-queijo, para os mais entusiastas)? Muito agradecida.

Servicos minimos da epoca

Os ultimos dez dias tenho-os passado a encaixotar uma casa inteira e a fechar todas as coisas que acompanham o terminar de um contrato de trabalho (ie, exames para corrigir, relatorios para escrever, papers para acabar, candidaturas para o futuro, etc, etc). Estou sem internet ha' uns dias, e a minha roupa tem saido de uns sacos de plastico azuis amontoados 'a entrada do apartamento. Mas ja' so' faltam dois dias para Morzine!

Esta mudanca de casa fez-se pensar nalgumas coisas que ja' deitei fora nas outras 13 mudancas de casa. Somos tomados por uma ansiedade de libertacao dos milhares de papeis, objectos em duplicado, caixas de CDs sem CDs, amostras de produtos de beleza que nos dao e que nunca (mas nunca) iremos usar, meias sem par, collants fora de moda, bikinis para rabos de ha' 5 anos atras, chavenas em numero impar, etc, etc. Mesmo assim continuo afundada em coisas. Coisas. Entre as coisas que eu hoje gostaria de ter, mas que ja' nao tenho, esta' o meu livro de autografos dos anos 80, com as preciosas palavras das Doce, das Cocktail (a rivalidade meu deus, a rivalidade!) da Alexandra, do Marco Paulo, dos Trovante, do Rao Kyao, do Rancho Folclorico do Lena (grandes rivalidades com a turminha da flor do liz). Tal coabitacao de nomes musicais num so livro nao vem de um gosto musical eclectico, mas e' antes o testemunho de crescer numa vila antes da era dos quatro canais, do clube de video, dos concertos nos estadios. E' parte do meu bilhete de identidade (numa de rural gira). O que eu dava agora pelo meu livrinho kitch...

p.s. - Espero que o blogue volte 'a actividade normal assim que me instalar em Morzine. Entretanto nao percam the great blog story, uma historia em linha, escrita por varios bloggers . A minha vez esta' quase a chegar. E FELIZ NATAL PARA TODOS. Ou happy hanukkah!

Brincar a viver às vidas

Estou presentemente enterrada na avalanche de emails (leia-se nenhuns emails) enviados por curiosos abelhudos que expressaram interesse sobre a pergunta colocada uns posts abaixo...

‘So guess where we’re going to be living in the next five months?’

Bom, meus caros, a resposta recai sobre a bela foto ao lado. Imaginem esta pitoresca vila francesa coberta de neve alpina, e começam a ter uma ideia do que eu estou para aqui a falar.

É verdade que só se vive uma vez, e por isso deve ser muito chato viver uma só vida. Privados que somos pela natureza criadora de carregar no botão para fazer o reset ao fim de algumas décadas, resta-nos fazê-lo por impulso de quando em quando, deixando as convenções e seguranças para trás. A minha supervisora de doutoramento (grande nome professorial do mundo académico) contou-me um belo dia que por vezes ficava farta do que fazia; quando isso acontecia, imaginava-se a conduzir um camião por essa Europa fora. Camionista, portanto, a Professor trocaria de vez em quando a cátedra pelo assento de suspensão variável do TIR.

Num processo semelhante a esta sequência de raciocínios, eu e o MacGregor decidimos trocar as nossas vidas em Edimburgo por cinco meses nos Alpes. Não é MA-RA-VI-LHO-SO? TIRs não são para mim. Vamos apanhar o ferry boat nocturno até Bruges (não é MA-RA-VI-LHO-SO, acordar de manhã na capital chocolateira europeia?) e conduzir por ali abaixo até Morzine. Morzine é lindo. É em França, por isso é lindo. É Alpino, por isso tem telhados branquinhos, e varandas trabalhadas em madeira esculpida. É na montanha, por isso tem a comida mais deliciosa que alguém pode imaginar depois de um dia passado no ar frio das alturas. E tem mercado semanal. E croissants pela manhã. E tarte de framboesas. E pessoas que falam francês com aquela boca em biquinho, quais passarinhos.

Acabámos de enviar o depósito para o nosso apartamento. Partimos no dia 22 de Dezembro. Foi para situações destas que a expressão Estou em Pulgas foi inventada. E há que fazer-lhe justiça.

Quando os lugares nos ficam na alma

Há três anos atrás, estava em Bali quando ocorreu o primeiro atentado terrorista. E agora outro, numa ilha que tanto luta contra a crise. Estávamos por aqui a pensar o que fazer, como ajudar, o que se passará com a família do Naya, o simpático motorista que nos conduziu à volta da ilha durante as duas semanas que lá estivemos. Remexi as caixas onde guardo notas e papeis de viagem, e lá encontrei o endereço e o telefone do Naya. Acabámos de lhe ligar. “The King and the Queen, remember?”. Ele lembra-se das alcunhas com que nos baptizou. Está bem, e a família também, mas já começou a vender alguns parcos bens porque o dinheiro não chega. Está a trabalhar num hotel.

O salário anual médio de um trabalhador de hotel é um quinto do meu salário mensal. O que fazer? Bom, amanhã vou pôr dinheiro no Western Union, e começar a pensar em organizar um jantar de angariação de fundos cá em casa, a ver se junto uns trocos para a escola dos filhos dele.

Se forem a Bali, recomendo os serviços do Naya (para obter o contacto enviem-me um mail). E já agora, consultem estas páginas para saber os hoteís a evitar (construídos em terras roubadas ao povo para proveito da família suharto).

Why I love Barcelona

Because it is no longer a tourist destination where I travel to, but a place where I meet up with my friends. It’s as if we all live around the corner from the Gran Via – as soon as we land at the airport we head for Ciudad Condal, a heavenly tapas place with the best artichokes in the world, a buttery delicacy which is quite difficult to put into words. Of all the beers we end up having over the weekend, the first Condal beer is the tastiest. It’s filled with anticipation and the genuine happiness of meeting up with your most precious girlfriends. We all live apart but from the moment we take in that first sip of beer we’re filled with the familiarity of people who get together every evening to talk over important and mundane matters.

Because at some point during the weekend we’ll have a Figo episode. A Figo episode is when someone or something Figo-related completely changes the rhythm or our nights. Even though Barcelona folk are meant to hate Figo, this God of Portuguese football has delivered us with many a bargain. Namely, entering into private members only clubs (you get in by claiming you are Figo’s buddy and prove it by keying on your mobile phone any random Spanish mobile phone number with the contact name Luis Figo on it, as you stand around the corner from the all exclusive place), or getting free booze just because the restauranter believes he has dealings with Figo and should grace you with some of this strange kinship people acquire through a shared passport. How cheesy is all this stuff?

Because at some point during our dancing extravaganzas at Otto Zutz my good friend C, who is as Irish looking as you can possibly be, gets overwhelmed by the black American music and declares passionately that she was born to be black, that her soul is black and that it can only be a mistake that she was born pale skinned and freckled. She is so convincing that at that point in time, and for a split second, I find myself wondering about all those guys in afros standing around the dance floor – I mean, they cannot be as black as my friend, can they?

Because it’s a city where you can spot people walking their fred bassets (the hush puppy dog) at 2am, guys carrying a mattress through the streets at 3am (a friend just decided to stay over, surely), a place where people respect what drinking a mojito should be about. And to that I raise my glass. At least once a year.