8 ou 80: a morte do senso comum

  Será que existem por aí outras almas que já sentiram a intensidade com que os homens mudam de um extremo comportamental para outro? E será que são mesmo incapazes de sintonizarem pensamentos de senso comum, assim como se fossem daltónicos incapazes de distinguir a solução ponderada do projecto épico hollywoodesco?

Tomemos o exemplo do... vejamos... quem é que eu posso referir... ah, já sei!, o McGregor. Depois de meses (anos, na verdade) de uma merecida pausa na carreira, expliquei ao McGregor que era bom que a inércia da vida dele mudasse, enfim, é uma pena ver tanta energia criativa estagnada no espaço que dista entre a sala de estar e a porta de entrada. Que criasse um projecto, um hobbie, quiça mesmo a (mal-criada) palavra trabalho.

Sem saber, tinha largado uma bomba irreversível no seio das nossas rotinas.

Dia seguinte. Clô chega a casa depois de um dia de trabalho: “How was your day?”. Bom, diz ele, casualmente, solta um “oh” desprendido e acrescenta “olha, por acaso adoptei hoje uma criança africana”. Close-up imediato para a minha cara: “????”. E justifica: “sabes, depois da conversa que tivemos ontem, achei que devia fazer algo diferente”. Já sentados à mesa o McGregor confessa que gostava de aprofundar os movimentos do ioga. Ioga?, digo eu, mas tu nunca fizeste ioga. Olha, por acaso comecei hoje, achei engraçado, mas a turma era muito grande e não deu para perceber o detalhe de certos movimentos. As revelações continuaram pela noite fora. Sim, olha, inscrevi-me numa sociedade de whisky (quantos pontos de interrogação seguidos se podem usar no mesmo parágrafo?).

No dia seguinte, o McGregor informou-me, como o mesmo ar desinteressado, o ar de quem foge a sete pés de qualquer reconhecimento de sucesso, que se ia inscrever numas aulas de boxe. “Boxe (que se lixe, aqui vai - ????)”. BOXE, disse eu, muito alto, mas não a gritar, apenas alto de surpreendida. “Desde quando é que eu juntei trapinhos com alguém que pratica boxe?”. Que exagero Clô, foi a resposta, é óbvio que eu não quero andar aos murros, só quero ir para beneficiar do excelente treino físico que o boxe proporciona.

Estou a escrever este post no meu gabinete. A verdade é que estou cheia de medo de ir para casa, sabe deus o que eu irei encontrar. Metade da população da Zâmbia a aguardar asilo político na minha sala de estar? Quem sabe meto a chave à porta e dou de caras com os amiguinhos do boxe a partir cadeiras? Ou será que o McGregor convidou um bando de malta com pretensões zen para grelhar beringelas lá em casa? Não sei, e olhem, acho que vou ficar por aqui. Tem aquecimento central, umas almofadas confortáveis, e por certo será mais seguro do que ir para casa e confrontar o rumo aleatório que hoje terá tomado conta da mente fértil do McGregor.

Comments

[Magnolia]

LOOOOOOOL!!! Parece que estamos em sintonia, nesta última semana eu também ando sem perceber o 8 e o 80 da espécie masculina... Mas há que olhar para o lado positivo da vida (yeah right...), se eles resolverem mesmo grelhar as beringelas, por favor chama-me!! Troco por bolinhos!

[izzolda]

Eles mudam rapidamente, mas as mudanças deles também são sempre passageiras ;)
E também gosto de beringelas grelhadas...pode dar-lhe para pior...como por exemplo, fazer haggis caseiro desde a primeira etapa ;) lol!

[clo]

izzolda, tenho agora na cabeça a imagem de um cordeiro a ser esventrado pelos tipos de boxe, perante o horror da malta do ioga, tudo isto na minha sala!

Magnólia traz lá os bolos...

[Paulo Ribeiro]

:D

É delicioso ler estes teus posts carregados de humor.

[S.]

Será que os subditos de Sua Magestade são todos iguais?
:P

[clô]

Silvia - Não! Existe uma variedade enorme de bifes, a qual eu vou descrever brevemente, mas hoje não consigo porque estou com uma constipação de caixão à cova.

No entanto, eu pareço ter uma inclinação especial para o britânico excêntrico, a única categoria com a qual eu pareço cruzar-me...

[Israel]

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