Moro em Leith, esse bairro que já foi da classe trabalhadora e que agora está entregue a uma mistura insalubre de “profissionais” e os descendentes dos trabalhadores caídos na miséria, uma colecção imperdível de desempregados, alcoólicos, traficantes e criminosos em geral. Não é por acaso que o Trainspotting foi filmado nestas ruas.
Ter que parar mais do que 30 segundos em qualquer rua é deprimente. Ontem estive à espera do autocarro, tempo suficiente para querer cortar os pulsos. Ao meu lado estava uma mulher hiper-gorda, mas com um vestido vermelho “sexy”, colado ao corpo, um decote do tamanho da boca do inferno. O namorado dela falava um dialecto escocês que eu duvido que os próprios escoceses entendam. Um outro senhor, gordo que nem um porco antes da matança, esperava resignado, com as roupas cobertas de nódoas. À nossa frente cruzou-se uma mulher magríssima, com a cara em obras, anos de degradação de drogas e álcool ali marcados, aos zigue-zages, bêbada que nem um cacho, agarrada às paredes, as próprias leis da física questionadas por ela não ter caído ao chão . Nisto chega um casal muito frágil, parecem ter 90 anos mas de certeza que não têm mais do que 65, a cara sem côr, o rosto coberto de veias vermelhas.
Que fazer, compro uma gilete e digo adeus à vida, para sair deste pesadelo? Ah não, esquecia-me, vou ver os Madredeus daqui a meia-hora, não é preciso, vou antes participar num suicídio por depressão colectiva, disfarçado de concerto. As merdas que um gajo atura quando está emigrado...