Esfrego as mãos sempre que alguém por aqui me diz “Oh, so you’re Portuguese”. Normalmente espero os comentários típicos: “oh, I’ve been the the Algarve, not the real Portugal, isn’t it?”. Há uns anos os guias de viagem Lonely Planet e o Rough Guides criaram a ideia de que existem lugares fora das rotas turísticas. Desde então que todo o pé de chinelo se dá ao direito de dizer, de forma algo auto-depreciativa mas justificadamente irónica, que apesar de ter ido para um complexo manhoso do Algarve tem a consciência de que existe um país inteiro muito mais interessante. E aquela frase por si só basta – ir apenas ao Algarve, na mente urbano-liberal deste povo, é socialmente aceitável desde que se diga, em jeito de disclaimer, que se tem a plena consciência de que existem lugares bem mais genuínos (nos quais nunca irão por os pés). Até aqui tudo bem (os tugas também não vão ao Brasil, mas sim a Fortaleza, à Baía e ao Rio).
No entanto, os comentários de que mais gosto são aqueles que caem fora deste molde. Vejo as tiradas mais ignorantes como uma oportunidade de criar um cenário de fantasia verdadeiramente estupidificante, ao jeito do Hitchiker’s Guide to the Galaxy. Dentro desta categoria de comentário, destaco as duas melhores situações que já me aconteceram:
Diálogo A
A: Oh, so you’re Portuguese? Very poor country, isn’t it?
Eu: Really? I guess in some ways…
A: Well, people still travel by donkey over there, do you know what I mean?
Eu: Yes, that is a problem. You know they have even built an extra lane on highways just for donkeys? Portugal is covered by those special roads, much safer now!
A: Really? How interesting. So tell me…. Bla bla bla
Diálogo B
B: Oh, so you’re Portuguese? Very poor country, isn’t it?
Eu: Really? I guess in some ways…
B: I’ll tell you what. I was really impressed by the bridge you have in Lisbon! I never expected that sort of thing in Portugal.
Eu: Yes, it looks great doen’t it? Unfortunately, they didn’t have the money to do it properly.
B: What do you mean?
Eu: Well, the money wasn’t enough for an ever lasting bridge, so every winter they take the bridge down and put it back again in summer. The structure wouldn’t last through the winter.
B: Wow, I never knew that…. Bla bla bla.
(post inspirado neste desabafo da sushi lover)